Pois bem, amigos!!!
Já faz uma semana que estou aqui em Santiago. A cidade é boa, o clima um pouco louco (faz frio pela manhã, esquenta bastante à tarde e a temperatura cai incrivelmente à noite), a comida muito diferente e as pessoas - apesar do que já havia escutado de alguns - muito agradáveis e solícitas.
Ainda não comecei meus estudos na Universidad de Santiago de Chile. Para ser mais sincero tem aqui na residência estudantil em que estou hospedado muita gente que está tão ou mais perdida que eu. Alguns estão há dois meses sem notícia se de fato vão estudar, outros tiveram a sorte de mal chegar e já ir às aulas e outros, como eu, estão correndo atrás e um pouco ansiosos para que tudo comece.
Muitos de vocês já devem saber do caos que está a questão da educação no Chile. Os estudantes universitários e secundaristas estão há pelo menos 3 meses fazendo greve de estudos. Desde então uma boa parte dos estudantes chilenos não tem ido às faculdades e escolas. Muitos invadiram as escolas secundárias e só foram tirados delas por intervenção policial. Toda semana, pelo menos, tem uma passeata, uma marcha pela educação. Hoje, aliás, houve uma. Estima-se que estiveram nela algo como 100.000 estudantes.
A principal reivindicação deles é uma educação superior gratuita e de qualidade. A universidade pública aqui é, contraditoriamente, paga. Quem não tem condição, ou consegue uma bolsa ou um financiamento do banco. Por todo lado se vê pichadas em algumas ruas inscrições como "cinco años para estudiar, quince años para pagar", o "educación gratuita ahora!" o "nos tienen miedo porque no tenemos miedo". Está ocorrendo aqui uma verdadeira revolução estudantil. É uma molecada que bota a cara na rua e reivindica mudanças.
Por outro lado, há um setor da sociedade - e não estou falando apenas de ricos abastados - que apoia o governo chileno. Segundo eles, antes era muito pior. E hoje os jovens tem condição de estudar. Não sei não...
Aqui, quando um jovem quer entrar na universidade, é algo que envolve toda a família. Se um jovem decide entrar na universidade, e a família não tem condições de pagar, toda a família tenta ajudar de alguma forma. E isso compromete economicamente. É por questões como esta e outras que eles estão aqui, fazendo panelaços, batendo tambor e exibindo faixas nas ruas ou cantando coisas como "y va a caer, y va a caer, la educación de Pinochet"...
É um problema antigo e que nenhum presidente ou ministro da educação, desde a abertura democrática de 1990, conseguiu sanar. Reconheço que uma mudança como esta não se faz da noite pro dia, como se o ministro aparecesse na televisão e dissesse "ok, a partir de amanhã ninguém mais paga". Mas que a meninada está dando gosto de ver, está...
O grande problema é que os jovens que tem bolsa ou financiamento, se perdem o semestre, perdem estes recursos. E é aí que mora o perigo: se o governo bate o pé e diz não, vai ser un randez-vous danado!!! Isso sem contar os estudantes de segundo grau, na condição de futuros universitários, que vão perder o ano letivo se um acordo não for firmado em breve.
Mas falemos agora da cidade: a cidade é relativamente pequena, é muito limpa e muito organizada. Já conheci alguns lugares "bem de turista", como o Palácio de la Moneda (sede do governo chileno), o Cerro Santa Lucía (um passeio agradável que recomendo a todos e que nos proporciona uma visão da cidade e dos Andes), o centro de Santiago, com suas construções clássicas e o bairro em que estou, Santiago Poniente, que é a parte colonial da cidade, repleta de casas antigas - algumas em bom estado e outras não - trilhos de bondes que ainda estão mantidos pelas ruas, com o Parque Quinta Normal (passeio imperdível), e vários museus e centros culturais.
Como disse logo no começo, a gente daqui é surpreendentemente agradável e solícita. Sempre nos orientam quando estamos em dúvidas, sempre dizem que gostam muito do Brasil, um ou outro diz que já esteve ou que algum parente esteve em alguma cidade do Brasil - invariavelmente São Paulo ou Rio - e quem nunca esteve tem muita vontade de ir. Os motoristas sempre param nas ruas quando os pedestres vão atravessar as ruas (incrível!!!!!!) e, por incrível que pareça, os carabineros - a polícia daqui - sempre nos orientam e nos dizem: si hay algún problema, llame a los carabineros. Siempre hay uno cerca de usted, señor. Qué lo pase bien. Em dois parques que estive nestes dias, há até fila para as crianças tirar foto montadas nos cavalos dos carabineros!!! No sábado passado, Mayla, uma colega gaúcha que está aqui na mesma casa, ficou louca com os cavalos dos policiais, e queria tocá-los. Chegamos no meio da criançada e lhe disse a uma policial que minha amiga queria muito passar a mão no cavalo. A policial - muito bonita, por sinal - abaixou lentamente, pegou na mão da minha colega e... passou levou a mão até o próprio rosto!!!!!!!! Depois deixou-a passar a mão no cavalo.
E me surpreendi com isso porque, quando estava no Brasil, tinha notícia da truculência desses tipos - batem nos estudantes, são uns grossos, etc. Mas, depois que vim para cá, descobri uma coisa interessante: se há necessidade de descer o pau, eles fazem. E geralmente isso acontece nos finais das marchas estudantis, quando aparecem "los encapuchados", aqueles tipos anarquistas, que são contra tudo (e contra si mesmos, se bobear) e sempre aparecem no final das marchas, para queimar carro, deixar lixo nas ruas, bloquear acesso a outros carros e soltar bombas. Aí, se eles querem anarquia, anarquia tem. E o cacete come pra tudo quanto é lado. Os estudantes os odeiam e a polícia também.
Enfim, deixo estas linhas para que vocês leiam e estejam certos de que aqui está tudo bem, exceto pela saudade que aperta dos amigos, dos parentes, do ambiente da faculdade de letras da UFMG, do arroz com feijão e de uma mulher especialíssima que não vejo a hora de ver (ai, Lilla...)...
Lhes prometo que na próxima vou postar umas fotos. Lilla já pegou no meu pé sobre porque vou nos lugares bacanas e não tiro fotos. Bem, sou um péssimo fotógrafo, assumo. Mas estes meus quatro meses em Santiago me farão aprender a tirar boas fotos. Em breve vou colocar aqui. Só preciso aprender como... alguém me ajuda, por favor!!!!!
Beijos a todos e até a próxima!!!
Juan Fiorini
Blog de um estudante mineiro de letras, passando alguns dias em Santiago - Chile.
23 de set. de 2011
4 de set. de 2011
Em breve nos veremos aqui também!!!
Olá, caríssimos!!!
Ressuscitei meu blog por dois motivos. O primeiro: a necessidade de escrever algo, já que tenho andado tão parado. Sinto falta mesmo de escrever e compartilhar, e por isso agora estou de volta neste formato.
O segundo motivo é que estou de malas prontas para um intercâmbio. A partir de setembro (se tudo correr bem, e mais adiante explico para vocês sobre o "se tudo correr bem") estarei na USACH - Universidad de Santiago de Chile. Trata-se de uma importante experiência para mim, em busca de mais conhecimento. E através deste blog, os amigos e familiares terão a oportunidade de ter notícias do outro lado da cordilheira. Vai ser um "tudo sobre qualquer coisa" deste país que tão poucas notícias temos.
Dia 13 de setembro é o dia da viagem, cujo retorno será - até então - no final de janeiro. Confesso, queridos, que estou um pouco tenso com toda esta experiência. Fico ainda meio receoso de muita coisa: a recepção na faculdade, os novos colegas, a cidade, o clima, as pessoas, a comida, etc. Mas já que entrei de cabeça na lagoa, "nada, meu filho!".
Conhecedor de como as visões que temos de tudo muda ao longo das experiências às quais somos submetidos, declaro que pouco conheço do Chile: o tal do vulcão que expeliu cinzas à vontade no meio do ano, a Cordilheira dos Andes, que separa o Chile da Argentina, o Palácio de la Moneda, o golpe do Pinochet em 1973, o vinho "Concha y Toro", e dois ou três nomes de jogadores de futebol chilenos. E reconheço que, ao longo das publicações, muito mais do que isso eu vou saber, bem como vou também conhecer. Esta será uma viagem de conhecimentos - estou seguro disto.
Bem, portanto sejam bem vindos ao blog. Que desfrutem bastante das leituras que estão por vir, e que possamos também bater papo sempre que pudermos, seja no facebook, no googletalk, por mail ou simplesmente através dos comentários que aqui vocês poderão postar.
Um grande abraço!
Ressuscitei meu blog por dois motivos. O primeiro: a necessidade de escrever algo, já que tenho andado tão parado. Sinto falta mesmo de escrever e compartilhar, e por isso agora estou de volta neste formato.
O segundo motivo é que estou de malas prontas para um intercâmbio. A partir de setembro (se tudo correr bem, e mais adiante explico para vocês sobre o "se tudo correr bem") estarei na USACH - Universidad de Santiago de Chile. Trata-se de uma importante experiência para mim, em busca de mais conhecimento. E através deste blog, os amigos e familiares terão a oportunidade de ter notícias do outro lado da cordilheira. Vai ser um "tudo sobre qualquer coisa" deste país que tão poucas notícias temos.
Dia 13 de setembro é o dia da viagem, cujo retorno será - até então - no final de janeiro. Confesso, queridos, que estou um pouco tenso com toda esta experiência. Fico ainda meio receoso de muita coisa: a recepção na faculdade, os novos colegas, a cidade, o clima, as pessoas, a comida, etc. Mas já que entrei de cabeça na lagoa, "nada, meu filho!".
Conhecedor de como as visões que temos de tudo muda ao longo das experiências às quais somos submetidos, declaro que pouco conheço do Chile: o tal do vulcão que expeliu cinzas à vontade no meio do ano, a Cordilheira dos Andes, que separa o Chile da Argentina, o Palácio de la Moneda, o golpe do Pinochet em 1973, o vinho "Concha y Toro", e dois ou três nomes de jogadores de futebol chilenos. E reconheço que, ao longo das publicações, muito mais do que isso eu vou saber, bem como vou também conhecer. Esta será uma viagem de conhecimentos - estou seguro disto.
Bem, portanto sejam bem vindos ao blog. Que desfrutem bastante das leituras que estão por vir, e que possamos também bater papo sempre que pudermos, seja no facebook, no googletalk, por mail ou simplesmente através dos comentários que aqui vocês poderão postar.
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